domingo, 11 de abril de 2010

5 de abril de 2010

Desceu do ônibus procurando a touca da blusa desesperadamente.Parecia um macaco tentando catar piolho nas costas. Mas ela não ligava, porque quando chove, ela acredita que todas as pessoas tornam-se meio cegas. Olham apenas para frente para não pisarem em poças d’àgua e os guarda-chuvas lhe cobrem parcialmente a visão. E ela sempre acha que está dentro dessa parcela que não vêem. Assim ela não ligou quando a rajada de vento transformou o seu cabelo em arte moderna.

A garoa fina e gélida a cair em seu rosto e o vento a cortar-lhe a pele a irritou profundamente, fazendo-a acelerar o passo em direção as catracas mais viciadas da terra. Ou o pequeno caminho do mundo que ela conhece.

Ufa! Hoje as catracas estavam funcionando como sempre deveriam funcionar, e o tênis não derrapou nas poças d’àgua daquele chão liso e escorregadio que ela tanto odeia, na entrada.

Entrou na faculdade rezando não encontrar ninguém conhecido, pois sua cara de quem não dorme e come há dias e desprovida de maquiagem era realmente o retrato do que a irmã mais velha passou a lhe chamar “Cara da garota infernal quando tem sede e fome”.

Ao entrar na sala se deparou com mais pessoas do que imaginaria encontrar naquele horário. Reparou que todos estudavam bem mais empenhados do que ela tentará fazer no feriado prolongado inteiro. Sentiu na garganta um gosto amargo de arrependimento por ter desperdiçados algumas horas do feriado vendo TV de pijama e meias infantis.

Sentou-se no lugar de costume e cumprimentou discretamente as amigas, tentou estudar os textos que deveria ter lido a dias, e inutilmente releu as anotações de seu caderno, tão completas quanto o material que sua memória permitiu lembrar das aulas anteriores.

Durante a explicação sobre contratos redigidos de acordo com as leis do país, ela preferiu ligar seu notebook e escrever um pouco sobre seu dia. Numa tentativa tola de fazê-lo mais poético e menos duro.

Horda do intervalo, ela preferiu navegar em um site de relacionamentos de mensagens instantâneas e curtas.

E então eu desisti de relatar esse dia quando o sono bateu e o relógio me lembrou que estava tarde.

Vida de trabalhadora/estudante faz o tempo nos escravizar.

Um comentário:

Anônimo disse...

Relato de mais um dia na correria infernal de um período curto da sua vida, só você sabe como e quanto é díficil, só você sabe quanto depois valerá a pena!
Força Mary C, quando crescer, concluir essa etapa, viver e apender, verá o quanto valeu a pena todo esse empenho, torço por você mais do que qualquer um torceu, estarei sempre torcendo e te apoiando.
"E quando tudo acabar, vamos sentar em uma mesa de bar e rir de tudo e de todos"
Força sempre!